Osho - Os três estágios do autoconhecimento
Bem
no fundo, a busca de conhecimento é , na verdade, a busca de poder. E
como você pode ser poderoso em relação à realidade? A própria ideia é
ridícula. Permita que a realidade tenha poder sobre você...relaxe. E
permita que a realidade tome posse de você, em vez de você tomar posse
da realidade.
Para
estar realmente em um estado de autoconhecimento, a pessoa tem de
esquecer o eu e esquecer toda investigação relacionada ao
autoconhecimento. Então, ele acontece! Só assim ele acontece.
Há três esforços em toda a história da consciência humana no que se refere ao autoconhecimento.
O
primeiro esforço é o do realista. O realista nega o eu interior; ele
diz que não há eu interior, não há sujeito; só o objeto existe, a coisa,
a matéria, o mundo. Essa é sua maneira de evitar a jornada
para dentro de si. A jornada de si é perigosa. A pessoa terá de perder
tudo! O autoconhecimento e tudo o mais, as raízes e tudo o mais - a
pessoa terá de perder tudo. O realista não pode correr este risco. Então
ele encontra uma explicação: Ele diz: "Não há alma. Não há eu interior.
Tudo o que existe no mundo são objetos." Então ele fica preocupado em
conhecer os objetos. Ele esquece a subjetividade e passa a se ocupar da
objetividade. É isso que a ciência vem fazendo há 300 anos. É uma
maneira de fugir de si mesmo.
A
segunda maneira é aquela do idealista, que diz que não há objeto; o
mundo é maya, ilusão. Não há nada a conhecer lá fora; ele simplesmente
fecha os olhos e vai para dentro de si. Só o conhecedor é verdadeiro - o
conhecido é falso. O realista diz que apenas o conhecido é verdadeiro e
o conhecedor é falso; o idealista diz que apenas o conhecedor é
verdadeiro e o conhecido é falso. Veja o absurdo disso - como pode haver
um conhecedor se não houver conhecido? E como pode haver um conhecido
se não houver conhecedor?
Assim,
o idealista e o realista está apenas escolhendo uma metade da
realidade. Quanto à outra metade, eles são temerosos. O realista teme ir
para dentro de si, porque ir para dentro de si significa penetrar no
vazio, no total vazio. É cair em um poço sem fundo, em um
abismo...imprevisível. Onde ele vai parar ninguém sabe, nem sequer se
vai parar em algum lugar.
O
realista teme o conhecedor e por isso o nega. Por medo ele diz que não
existe: "Todo meu interesse é no conhecido, no objeto". E o idealista
teme o objeto, o mundo, os encantamentos do mundo, a magia do mundo. Ele
teme se perder nos desejos e nas paixões. Teme ficar envolvido em
coisas - dinheiro,
poder, prestígio. Tem tanto medo que diz: " Tudo é sonho. O mundo que
está lá fora não é real. O mundo real é o mundo interior".
Mas ambos está sendo meio verdadeiros.(...)
E
há a terceira maneira: a maneira do místico. Ele aceita ambas e rejeita
ambas. Essa é minha maneira de ser. Ele aceita ambas porque diz: " Em
um plano existem os dois - o conhecedor e o conhecido, o sujeito e o
objeto, o interior e o exterior. Mas no outro plano, ambos desaparecem e
só um permanece - que não é nem o conhecido nem o conhecedor."
A
abordagem do místico é total. (...) Em um nível ambas abordagens estão
corretas. Quando você está sonhando, o sonho é verdadeiro e o sonhador é
verdadeiro. Agora o sonhador se foi e o sonho se foi - ambos se foram.
Agora você está acordado. Agora você está existindo em um nível de
consciência totalmente diferente.
O
mundo é verdadeiro e o ego é verdadeiro quando a pessoa é ignorante
inconsciente, alheia. Quando a pessoa se torna consciente, quando o
estado búdico acontece, então não há o mundo nem o ego - ambos
desapareceram. Mas "ambos desapareceram" não significa que nada tenha
restado: ambos desapareceram um dentro do outro. Só um restou agora -
não restaram dois. O conhecedor e o conhecido tornaram-se um só.
Essa
unidade é o que realmente significa autoconhecimento. Mas a palavra não
é correta. Nenhuma palavra pode ser correta. Com relação às grande
experiências que vão além da dualidade, nenhuma palavra pode ser
correta.(...)
O
terceiro método, o método do místico, é uma transcendência dos outros
dois métodos. Ele não nega a realidade ao objeto, ele não nega a
realidade ao sujeito - ele aceita a realidade de ambos. Ele as une.
Esse
é o significado da famosa declaração dos Upanishads tat twam asi - tu
és isso. Essa é uma fusão das duas esferas. Nessa fusão, o
autoconhecimento acontece. O eu desaparece, o conhecimento desaparece -
tudo fica claro. Não há ninguém para quem aquilo seja claro, e não há
algo a ficar claro - mas tudo fica claro. Resta só a clareza, a
claridade.
Isso é chamado pelos budistas de a terra de lótus de Buda.
Tudo é claro e fragrante, é belo e harmonioso. Então o esplendor abre suas portas.
O
conhecimento é um fato seco, morto - não é a experiência úmida. E a
experiência não é conhecimento, mas saber. Por isso Krishnamurti sempre
usa a palavra "experienciar" em vez de "experiência". Ele está certo.
Ele transforma o substantivo em verbo e o chama de experienciar.
Lembre-se disso sempre: transforme os substantivos em verbos e você
estará mais próximo da realidade.(...)
Se você conseguir entender que toda a vida é um verbo, não um substantivo, haverá um grande entendimento acompanhando-o.
Não há eu e não há o outro.(...)
O
autoconhecimento é de grande importância. Nada mais é importante do que
isso. Mas lembre-se destas duas ciladas: uma é negar a subjetividade e
se tornar um realista; outra é negar a objetividade e se tornar um
idealista. Evite essas duas ciladas. Ande exatamente no meio. E então
você será surpreendido - o eu desapareceu, o conhecimento desapareceu.
Mas então chega o saber. A grande luz desce e é uma luz que não apenas
transforma você, como transforma todo o seu mundo.
Buda teria dito: "No momento em que me tornei iluminado, toda a existência se tornou iluminada para mim".
Isso
é verdade. Sou testemunha disso. É exatamente assim que acontece.
Quando você se torna iluminado, toda a existência se torna repleta de
luz e permanece repleta de luz.
Até a escuridão se torna luminosa, até mesmo a morte se torna uma nova maneira de viver."
(Osho em Inocência, conhecimento e encantamento.)
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